09/12/2023

A teoria da gravidade no mundo islâmico medieval

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A valorização e o reconhecimento da ciência variam em diferentes regiões e culturas, e a história da ciência é marcada por contribuições significativas de várias partes do mundo. Quando estudamos no ensino fundamental e médio, aprendemos muito superficialemtne sobre o desenvolvimento científico fora da Europa. Muitas civilizações, incluindo aquelas no Oriente e no Oriente Médio, fizeram contribuições notáveis para o conhecimento científico ao longo da história.

Entre os séculos VIII e XIII, o mundo islâmico experimentou uma Idade de Ouro, durante a qual houve avanços significativos em várias disciplinas, incluindo matemática, astronomia, medicina e filosofia. Centros de aprendizado, como a Casa da Sabedoria em Bagdá, foram importantes na preservação e tradução de textos antigos e na geração de novo conhecimento.

Atualmente, há um esforço crescente para reconhecer e valorizar as contribuições científicas de diversas culturas. Instituições de pesquisa, tanto no Oriente quanto no Ocidente, frequentemente buscam colaborações internacionais para promover o intercâmbio de conhecimento.

Conferências científicas globais e publicações científicas agora incluem trabalhos de cientistas de todo o mundo, refletindo uma abordagem mais inclusiva para o avanço do conhecimento.

Embora o eurocentrismo ainda tenha sido uma característica proeminente na narrativa histórica da ciência, os esforços estão sendo feitos para corrigir essa visão, reconhecendo a diversidade e a riqueza das contribuições científicas de várias culturas e regiões. O diálogo global e a colaboração científica são fundamentais para uma compreensão mais completa e justa do papel de todas as culturas na construção do conhecimento científico.

A física no Islamismo medieval abrange as áreas da física experimental, física matemática e física teórica. Os campos da física que foram estudados por cientistas muçulmanos durante essa época compreendiam também óptica e magnetismo (que hoje fazem parte do eletromagnetismo), mecânica (incluindo estática, dinâmica, cinemática e os movimentos) e astrofísica. Tais estudos floresceram no mundo islâmico durante a Idade de Ouro do Islã, que foi do século VIII ao XIII.

Bagdá foi um lugar onde oniscientes muçulmanos e estudiosos de diferentes regiões estiveram presentes e começaram a traduzir o conhecimento clássico mundialmente conhecido para as línguas aramaica e árabe. Durante este período, a terra histórica do Islã esteve sob o domínio dos califas e é caracterizada pelas invenções da Idade de Ouro Islâmica e pela expansão da ciência, economia e cultura.

Muitos cientistas, filósofos e estudiosos foram importantes na tradução e preservação de textos antigos, pois traduziram muitos textos científicos e filosóficos gregos e indianos para o árabe. Esse esforço de tradução desempenhou um papel vital na preservação do conhecimento antigo e na posterior transferência desse conhecimento para a Europa.

Al-Ḥasan Ibn al-Haytham (Alhazen) (965-1040) nascido no Iraque, foi um dos notáveis cientistas islâmicos, contribuindo significativamente para a óptica e fequentemente é chamado de "o pai da óptica experimental". Escreveu extensivamente sobre a refração da luz, a formação de imagens e a natureza da visão.

Séculos depois, em 1704, Isaac Newton publicaria sua intitulada Óptica, tratando sobre a natureza da luz, como reflexões, refrações, inflexões e cores da luz. No entanto, não há evidências que Newton tenha plagiado a obra de Ibn al-Haytham.

Nasir al-Din al-Tusi (Naceradim de Tus) (1201-1274) nascido na Pérsia, contribuiu para várias áreas da ciência, incluindo arquitetura, biologia, química, medicina, matemática, astronomia e física, propondo uma teoria sobre o movimento planetário que anteciparia a teoria heiocêntrica de Copérnico.

Longe de ser uma teorização iniciada com Newton, no século XI o polímata persa Ibn Sina (Avicena) (980-1037) nascido em Bucara, atual Uzbequistão, apesar de ser mais conhecido por suas contribuições à medicina e filosofia, também fez contribuições à física. Ibn Sina já havia expandido a teoria gravitacional do grego Filopono, e corrigido suas noções, sobre a gravidade e movimentação de projéteis.
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Outro polímata persa do século XI, Al-Biruni (Albiruni) (973-1048) nascido em Beruni, Uzbequistão, estudou sobre a teoria da gravidade, especialmente no contexto da queda dos corpos, antecipando as ideias de Galileu e Newton em alguns séculos. Propôs que os corpos celestes têm massa, peso e gravidade e que a Terra exerce uma atração sobre os corpos levando-os a cair em direção ao centro da Terra, criticando Aristóteles por manter a visão de que apenas a Terra teria essas propriedades, propondo a gravidade como uma lei geral. Sua explicação foi mais uma compreensão intuitiva da força gravitacional, uma vez que não apresentou qualquer formulação matemática ou uma teoria sistemática como seria desenvolvida mais tarde por Newton.
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Al-Biruni também realizou experimentos para medir a gravidade com técnicas e instrumentos limitados, mas conseguiu propor métodos para medir a aceleração da gravidade , abordando questões relacionadas à queda dos corpos e às variações na gravidade em diferentes locais.
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No século XII, Al-Khazini (séc XI-séc XII) nascido em Irã, sugeriu que a gravidade que um objeto contém varia dependendo de sua distância do centro da Terra. Em seu tratado escrito em quatro volumes O livro da sabedoria, dissertou sobre a teoria do centro de gravidade de seus antecessores, incluindo Al-Biruni, al-Razi e Omar Khayam. 

Al-Khazini explica como o peso do ar e sua densidade diminuem com a altitude e como a densidade da água é maior quanto mais próximo ao centro da Terra, o que foi comprovado por Roger Bacon dois séculos mais tarde.

Al-Khazini ainda escreve que um corpo pesado é aquele que é movido por uma força inerente, constante, em direção oa centro da Terra, ou seja, que possui uma força que o move em unicamente em direção a um ponto central.

Al-Biruni e Al-Khazini estudaram a teoria do centro de gravidade, generalizando-a e aplicando-a a corpos tridimensionais. Eles também fundaram a teoria da alavanca ponderável e criaram a ciência da gravidade, meio milênio antes de Isaac Newton. Métodos experimentais refinados também foram desenvolvidos para determinar a gravidade específica ou o peso específico de objetos, baseados na teoria de balanças e pesagens pelos polímatas muçulmanos.
Abu’l-Barakāt Al-Baghdādī
No século XII, Abu’l-Barakāt Al-Baghdādī (1080-1165), nascido em Bagdá, Iraque, adotou e modificou a teoria de Ibn Sina sobre o movimento do projétil. Em sua obra claramente anti-aristotélica Kitab al-Mu’tabar, Al-Baghdādī desenvolveu conceitos que se assemelham a várias teorias modernas da física, propondo uma explicação da aceleração de corpos em queda pelo acúmulo de incrementos sucessivos de potência em incrementos sucessivos de velocidade.

A teoria do movimento de Al-Baghdādī foi um vago prenúncio da segunda lei do movimento de Newton, ao distinguir entre velocidade e aceleração e mostrar que a força é proporcional à aceleração.

Al-Baghdādī também modificou a teoria do movimento de projétil de Avicena e afirmou que o motor transmite uma inclinação violenta ao movido e que isso diminui à medida que o objeto em movimento se distancia do motor.

De acordo com Shlomo Pines (1908-1990) estudioso francês de filosofia judaica e islâmica, a teoria do movimento de al-Baghdādī era “a negação mais antiga da lei dinâmica fundamental de Aristóteles, ou seja, que uma força constante produz um movimento uniforme, e é, portanto, uma antecipação de uma forma vaga da lei fundamental da mecânica clássica, ou seja, que uma força aplicada continuamente produz aceleração.


$\rightarrow$ Conheça mais sobre a cultura islâmica em História Islâmica, por Mansur Peixoto.


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